segunda-feira, 1 de março de 2010

14 anos

Seu olhos eram como um mar em ressaca, violentos, altos, intocáveis. Sua voz era como o trovejar em uma tempestade, forte, impetuosa, implacável. Seu andar tinha firmeza como o de um soldado, e a malemolencia de um malandro.
Nada combinava com a sua realidade, tinha apenas 14 anos, e se portava como um homem. Não era preciso perguntar o que o tornara assim, a rua exclamava seu nome como uma mãe, e a solidão o envolvia como o abraço de um pai.
Era órfão desde os 5 anos, aprendeu a se virar sozinho, conheceu o pior das pessoas, viveu por instinto. Sua mãe - a rua -, lhe ensinou a não ter sentimentos, e o seu pai - a solidão - lhe fez acreditar que ele não tinha nada a perder. Sendo assim, seus melhores amigos sempre foram o medo e a morte.
Pegou numa arma pela primeira vez aos 7 anos, desde então nunca mais a largou. Aos 12 já podia dar aula de bandidagem.
Já matou mais de cem, já se drogou, prostituiu, roubou, chorou e sorriu. A sua inocência morreu junto com seus pais biológicos, e a sua infância nunca chegou a acontecer.
Hoje querem o levar para o reformatório, como se fosse resolver, sua revolta com o mundo sempre esteve em primeiro lugar, como era de se esperar.
De que adianta torna-los o pior que podem ser, e depois quererem mudar só para cumprir o dever? A vida segue rumos que medidas imediatas não conseguem mudar o seu caminho.

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