terça-feira, 31 de agosto de 2010

BFF

Eu não sei se é só comigo, mas o meu melhor amigo é o cara mais chato do mundo. Ele é o único que fala o que não gosta em mim na minha cara, e na frente de todo mundo. Ele me ensinou a ser cuzona, chata e a não demonstrar sentimentos. Todo mundo gosta do meu melhor amigo, onde ele chega faz amizade. "O sorriso dele é tão lindo, ele é tão legal, ele anda tão bem de skate", eu quero vomitar quando as pessoas começam com isso. Eu morro de ciúmes dele, e morro mais ainda de raiva porque ele não da a mínima. Ele me bate, me irrita, me perturba, mas quando eu caio de cara no chão e abro um buraco no queixo, ele fica segurando a minha mão no hospital, mesmo que ele esteja rindo de mim, ele tá comigo. É ele que me liga num domingo chuvoso e preguiçoso pra falar "vem aqui em casa assistir um filme comigo", e eu vou, extremamente feliz e honrada pelo convite. É com ele que eu solto meus maiores venenos sem preocupações, até porque, ele é pior que eu. Um conhece a falsidade e a sinceridade do outro. Ele é a pessoa mais confiável pra me dizer se estou bonita ou ridícula. Ele não é do tipo que me enche de bons conselhos quando eu mais preciso, mas é do tipo que me da um bom ombro pra desabafar, e quando eu me canso de falar, o silêncio dele era tudo que eu precisava. Eu me orgulho quando ta todo mundo la puxando o saco dele, querendo falar com ele, querendo ser amigo dele, e eu posso pensar "ele é o MEU melhor amigo". Só pelo olhar, a gente já sabe o comentário maldoso que um vai fazer pro outro de uma terceira pessoa. Só pelas brincadeirinhas dele com os outros eu já sei quando que eu tenho que ir lá, e salva-lo dos abraços intermináveis. Meu melhor amigo não gosta de abraços, de grude, de contato físico (a não ser que você seja uma menina bem gostosa). Pra se dar bem com ele, tem que ser subentendido. Claro que eu só entendi isso depois que ele disse que eu era chiclete. E eu tive que parar de querer encostar nele com medo que ele fosse embora. E por mais que ele vá embora, ele sempre volta. Ele volta pra me mostrar que aprendeu a dirigir e vem me pegar de carro, e me leva pra faculdade. Ele volta pra sair comigo, comprar algumas cervejas, marias-mole pra ficar bebendo na pista de skate falando merda dos outros. Ele volta pra eu ir pra casa dele antes de sairmos, e ficar pedindo pra ele ir com a camisa que eu gosto e levar um casaco pra eu usar, porque eu vou passar frio (e é claro que ele leva um casaco só pra ele, pra me ver trincando os dentes). E quando ele volta eu não o abraço, nem seguro na sua mão, mas eu sempre estou perto dele e ele de mim. Ele é o único que me arrasta pra praia, que fala pra eu deixar de me preocupar com tudo, que me faz de vela durante algumas horas, que ri dos livros que eu leio e fala que os meus textos de 'amorzinho' são muito óbvios, que prefere quando eu escrevo coisa séria. Mas ele é o melhor amigo do mundo, e no dia que ele disse que me amava, eu me segurei pra não chorar. Porque se eu chorasse ele ia começar a me chamar de falsinha, e eu ia perceber o quanto ele tava sem graça. Eu sempre vou nas festas da casa dele, conheço a família dele, dou risada com as loucuras que eles falam, e teve até um tio meio biruta disse que ia dar um presente de casamento para nós, ele só esqueceu que irmãos de alma, não podem se casar.

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