terça-feira, 2 de junho de 2009

Até que a morte nos separe.

Meus olhos estão fechados, ansiedade para decolar, a viagem dos sonhos está começando, não consigo ao menos acreditar. Minha lua de mel vai ser perfeita, estamos indo para Paris, a cidade luz! quer coisa mais romântica que isso?
O avião está saindo do lugar, eu e meu, enfim, marido estamos de mãos dadas, ele está tão tranquilo, e eu aqui toda agitada! Mas, que mulher em meu lugar não ficaria assim?
Ele fica me olhando com olhos de reprovação, melhor eu me controlar.
Já estamos sobrevoando o Rio de Janeiro, adeus cidade maravilhosa!
Estamos no ar a um tempo já, está tudo escuro la fora, ele me envolve com seus braços acolhedores, não a nada mais aconchegante do que apoiar minha cabeça em seu ombro, desde o começo do nosso namoro era assim, em todas as viagens ou momentos importantes ele me envolve com seu braço, me transmitindo segurança, ele faz com que eu sinta que nada pode me atingir. Mal posso acreditar que ele será meu para o resto da minha vida, até que a morte nos separe.
O capitão põe se a falar agora, segundo ele, estamos sobrevoando Fernando de Noronha, não é lindo isso? Até mesmo a nossa viagem passa por lugares românticos!

Acho que estamos passando por uma tubulação, o avião está se mexendo muito, todos estão começando a entrar em pânico, as pessoas começaram a gritar, isso não é normal, máscaras de oxigénio despencaram à nossa frente, olhei pra ele assustada, ele não parece estar entendendo nada, colocou a máscara em mim, e em seguida nele próprio, estou com medo, alguma coisa está acontecendo e eu não sei o que é, o capitão pede para apertarmos o sinto, e mantermos a calma, estamos passando por uma tempestade.
Mas não é isso que está me amedrontando, o que me assusta é o meu marido, ele não está tranquilo, seus olhos estão de um jeito diferente, ele acaba de tirar a máscara de oxigénio.
- Querida, eu te amo muito ok? Promete que não vai se esquecer disso? Você é a mulher da minha vida, vou te amar até mesmo após a morte, independente de tudo, você é o resumo do que eu sempre quis, cada segundo ao seu lado, foi completamente importante para mim. - ele tirou uma caixa se seu bolso, uma caixa pequena, aveludada, de um tom azul marinho - Eu ia guardar para quando chegássemos em Paris, mas acho melhor te dar agora. - Ele abriu a caixa, tirou um anel com o maior diamante que eu já havia visto na vida, este anel era de ouro branco, havia sido de sua bisavó, agora ele me entregava, nele estava gravado nossos nomes, era a coisa mais linda que havia no mundo - Este anel está na minha família a gerações, ele agora pertence a você, o maior amor da minha vida, espero que você entenda, que eu te amo mais do que a mim mesmo.
Não entendi o porque daquilo, nós já havíamos passado por tempestades antes, ele estava me assustando.
Então ele se levantou de onde estávamos, foi até o corredor, e começou a distribuir coletes para-quedas a todos passageiros, principalmente para os mais novos, porém não havia colete para todos, ele colocou um em mim, um diferente do que ele havia distribuído, ele era maior do que o dos outros, e ficou sem nada, eu não conseguia entender o que ele estava fazendo, enquanto colocava o para-quedas em mim, amarrando todas as cordas corretamente, ele colocava também um colete salva-vidas, eu olhava para ele sem entender nada, pedindo explicação com os olhos, sua única resposta foi quando me olhou, e disse que me amava. Ele me deixou só novamente, foi falar com o piloto, eu não era capaz de entender o que ele estava fazendo, as pessoas ao meu lado estavam assustadas, uns rezavam, outros choravam, e uma senhora em particular, dormia, dormia como se nada estivesse acontecendo. Talvez ela estivesse confiante que era só uma tempestade, que já iria passar... Ou talvez fosse louca, não sei ao certo.
Roberto finalmente voltara da cabine do capitão, seu semblante era o pior que eu já vira, seus olhos transmitiam tristeza e dor, de um jeito que eu jamais tinha visto antes. Ele sentou-se ao meu lado, quebrou o braço da poltrona que nos separava, e me abraçou, de um jeito que parecia que seria o nosso ultimo abraço. Eu não tinha forças para falar nada, estava com medo demais de sua reação, isso quase me impedia de respirar, ele nunca havia ficado daquele estado. Ele pegara uma corda de sua máscara de oxigénio e amarrava a corda em um dos lugares disponíveis do para-quedas, eu estava cada vez com mais medo, não parava de chorar. Ele não parava de me beijar, e sussurrar ao meu ouvido que me amava, ele repetira milhões de vezes o quanto eu o fazia feliz, e o quanto ele me queria com ele, ele falava ao meu ouvido tudo que eu sempre quisera ouvir, ele me contava todos os seus segredos, revelou todos os seus sentimentos, disse me até, o que sentira em nosso primeiro beijo, eu estava feliz por ouvir tudo que eu sempre pedia para ele me dizer, e assustada pelo momento em que ele me dizia aquilo. Eu percebi que ele tentava me tranquilizar, estava conseguindo, pois nunca ouvira de sua boca tantas coisas bonitas, me maravilhei com aquele momento. Foram os 5 minutos mais complexos, lindos e intensos da minha vida. De repente ele se calou, segurou meu rosto em suas mãos, olhou em meus olhos, e me beijou com força, intensidade, doçura e vontade. Foi sem a menor dúvida, o nosso melhor beijo.
Sem aviso algum, um raio, com toda intensidade existente na natureza, caiu sobre nosso avião, foi tão rápido que não deu tempo nem de as pessoas gritarem, agora eu entendia a aflição de Rob, ele sabia o que ia acontecer, ele havia tido mais um de seus pressentimentos, só que dessa vez, havia sido tarde demais. Ele tentara salvar a todos, mas dessa vez, não tinha sido possível.
O avião se partira devido a força do raio, estávamos caindo de uma atura imensurável, meus pensamentos se perdiam diante de tudo, o vento era tudo que existia naquele momento. Ele estava caindo ao meu lado, tentei puxa-lo para meu peito, - nunca fiquei tão feliz por ter feito aquele curso de para quedismo - consegui fazer com que ele ficasse na posição correta, estávamos caindo rápido demais, eu o abraçava forte, não podia ficar sem ele. Ele puxara a corda para soltar o para-quedas, ao perceber a sua intenção, eu o abracei com a força que existia ou não existia dentro de mim. O tranco foi muito forte, mas não o suficiente para eu o soltar, ambos estávamos conscientes, sendo assim, ele abrira seus braços pelo vão dos meus, e controlava o para-quedas.
Era horrível a cena que víamos das pessoas e dos destroços caindo.
De repente, um pedaço do avião, uma poltrona ou alguma outra parte dele, nos atingiu por cima, a pancada foi tão forte, que me fez vacilar, acabei o soltando no ar.
Eu não via mais nada, não sentia mais nada, eu não existia mais.
E como nos nossos votos de amor, até que a morte nos separe.
Mais cedo do que eu imaginava, ela nos separou.

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