quarta-feira, 29 de abril de 2009

Adeus

A chuva estava cada vez mais forte, raios e trovões soavam lá fora, a casa estava iluminada com velas, e eu estava sozinha, me escondi de baixo do cobertor, como se ele fosse um escudo, era assustador o modo como o vento balançava as árvores.
Nada conseguia me tirar a atenção daquela tempestade, pensava que o mundo iria acabar, não conseguia falar com ninguém, isolada no meu mundo, só com a minha companhia, meus pensamentos, só eu poderia acabar com aquele medo, que parecia infinito.
Tudo que eu mais queria era um herói pra me defender de mim mesma, me afundando dentro de mim, não conseguia sair. A visão pessimista do mundo tomou conta de tudo, parecia que nada conseguia ser mais forte que isso, pensamentos ruins começaram a ser tudo que tinha, o medo começou a me perseguir, as lágrimas corriam pela minha face apavoradas, tentando fugir de mim mesma, sai correndo pela chuva, a procura de algo que acalmasse meus pensamentos, olhava para todos os lados, só via cinza e água, as pessoas de longe me olhavam assustadas, minha maquinagem estava toda borrada, minha roupa ensopada, não aguentava mais aquela tortura dentro de mim, corria cada vez mais rápido, até o momento que algo me parou, comecei a ouvir a voz de alguém me chamando.
Abri os olhos, percebi que estava apenas sonhando, ainda me encontrava no hospital, ao lado dele, esperando que despertasse de seu sono profundo de 3 meses. Médicos já haviam me aconselhado a desligar os aparelhos que o mantinham ali, mas eu sabia, que a minha vida sem ele seria como uma tempestade eterna, pois ele era meu sol, minha lua, minha brisa, minha segurança, minha estrada, minha rua.
Me sentia culpada por ter permitido que ele chegasse aquele ponto, mas não adiantava falar nada, e nem tomar atitude nenhuma, ele nunca me dava ouvidos, a ultima vez que tínhamos nos falado, eu estava brigando com ele, não aguentava mais vê-lo se matando daquela maneira, cada vez mais drogas, cada vez mais bebidas, era previsível o seu fim, mas eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo.
Em uma festa, uma overdose no caminho de casa, um atropelamento, e ali estava ele, seus olhos fechados, sua respiração feita por maquinas, haviam 3 meses que a minha vida tinha parado para apenas permanecer ao seu lado, eu tinha esperança dele sair dessa, ele sempre foi forte, sempre disse que nunca ia me abandonar, prometeu cuidar de mim por toda minha vida, e agora, tudo estava acabando.
Meu mundo estava em estado de alerta, qualquer momento eu poderia desmoronar, já haviam passado mais duas semanas, e nada dele acordar, os médicos vieram novamente falar comigo, me disseram que ele não tinha muitas chances, que eram uma em um milhão, por fim, acabaram me convencendo a desligar os aparelhos, eu pedi só uma ultima visão dele 'vivo', me permitiram, ao entrar no quarto me senti como se estivesse no meu sonho novamente, as lágrimas correndo em minha face desesperadas, eu o abracei, o beijei, segurei suas mãos, eu não podia fazer mais nada, tinham acabado todas as minhas alternativas, seria a ultima vez que eu iria o ver, senti por uma ultima vez o seu calor, não era capaz de acreditar que eu diria adeus pra ele desse jeito, o amando tanto, fazia apenas 1 ano de casados, e tudo estava acabando, não podia acreditar, estava na hora de dizer adeus, dei então meu ultimo beijo nele, senti pela ultima vez a sua boca na minha, porque aquilo acontecia comigo? Eu não conseguia entender.
Os médicos entraram na sala, eu sai, e acabou por ali, a nossa história, a nossa vida, tudo devido ao seu vicio maldito.
Ao sair daquele quarto de hospital, me senti correndo pela tempestade, todos me olhavam com uma feição de dó, de pena, meu choro nunca havia sido tão dolorido, cada gota de agua que eu derramava dos meus olhos, eram como facadas no meu peito, jamais havia sentido dor tão grande assim.
Sete anos se passaram desde então, ainda não consegui esquecer nem por um segundo tudo que vivemos juntos, de todos os beijos e todos os momentos, a dor já não é mais tão forte, mas é constante, sei que nunca mais vou amar alguém como o amei, mas hoje me dedico a cuidar dos que tem a mesma fraqueza que ele tinha, hoje me concentro em não permitir que sintam a dor que senti, eu sei que ele estaria feliz se pudesse ver o centro de reabilitação que me pertencia no momento, ele sempre dizia que eu tinha nascido para cuidar dos outros, e isso me matava mais ainda, pois ele era o único que eu gostaria de cuidar, e não consegui.
Porém, hoje eu sei que ele olha por mim, seja onde estiver, eu ainda sou capaz de senti-lo, ainda mais depois de descobrir que esperava um filho dele, que hoje tem 7 anos de idade, é idêntico ao seu pai, e é a minha única razão de viver, sorrir e ser feliz, meu motivo de ter dado a volta por cima.

Um comentário:

  1. Você tem que escrever um livro já! Eu fiquei emocionada com o texto, fefe! Parabens!Parabens! Parabens!!

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